quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Artigo: O futuro do rádio

Muito se tem discutido em vários fóruns especializados na internet, ou mesmo nos corredores das emissoras, até em conversas de botequim, sobre o futuro do nosso rádio. A preocupação é válida, uma vez que temos acompanhado nos últimos anos uma revolução tecnológica alucinante, onde ingredientes genuinamente radiofônicos como música e informação se tornaram muito mais acessíveis, principalmente com o advento da internet.
A medida que a acessibilidade digital se amplia, concomitantemente ao aumento de plataformas e aplicativos que oferecem maiores facilidades de acesso em um universo de oportunidades impensável a poucos anos atrás.
E como competir com esse universo fabuloso usando as tradicionais ondas do rádio? Oras, o rádio já passou por tanta coisa, não é mesmo?
Para quem não se lembra, um dos exemplos mais emblemáticos foi quando surgiu a televisão. É bem verdade que o novo aparelho passou a ocupar um espaço mais valioso no mercado publicitário e muitos profissionais do rádio migraram para a telinha mas, contra as mais profundas teses que davam como certo o fim do veículo, isso não se concretizou. E foi justamente na época da popularização da televisão que surgiu o FM, originalmente idealizado para outro propósito, passou a ser um importantíssimo veículo de comunicação, levando vantagem sobre o AM no que se refere a qualidade de som.
No entanto, o veículo rádio vivia em uma verdadeira crise de identidade, o que acabou criando duas vocações distintas para o AM e o FM no pós-TV. O AM deixava de lado as caras produções de radionovelas e programas de auditório, passando a apostar em debates e programas jornalísticos, com participações de ouvintes por telefone o que, de certa forma, acabava sendo menos custoso. Enquanto isso, o FM, por sua qualidade sonora, aproveitava a pureza do som para apostar em programações musicais, reaquecendo e remodelando o mercado fonográfico, ditando tendências e revelando novos nomes.
O início da nova revolução se dá quando a internet começa a se popularizar e, com ela, surgem os dispositivos de compartilhamento de arquivos, permitindo que milhões de pessoas no mundo inteiro possam compartilhar um único arquivo, seja ele um livro, um documento, ou mesmo uma musica.
Essa revolução gerou, quase instantaneamente, uma crise geral no mercado fonográfico com uma queda vertiginosa na venda de CDs. Lojas, fábricas e distribuidoras foram fechando portas e o caos parecia se instalar.
Enquanto isso o rádio assistia a essa revolução de braços cruzados, uma vez que o veículo também se beneficiava dela, já que agora podia também participar dessa grande aldeia de compartilhamento de músicas e não mais tinha que arcar com altos custos para conseguir os fonogramas. Sem contar que as próprias gravadoras, em sua luta incansável por sobrevivência, passou a tratar com muito mais respeito o veículo rádio, para que este pudesse executar suas músicas.
O tempo foi passando e a era digital foi se transformando cada vez mais, e de uma forma cada vez mais rápida e intensa. O acesso a videoclipes e músicas foi se tornando cada vez mais comum, vide Youtube e outras plataformas. Vieram os aparelhos de MP3, os Ipods e outros apetrechos tecnológicos que permitem ao usuário uma experiência única em termos de acessibilidade a musica, dando a ele o poder de escolha do que vai ouvir, coisa que o rádio não lhe garante.
A medida que essa acessibilidade foi aumentando, a audiência do rádio FM convencional foi aos poucos diminuindo, assim como eu acredito que vem acontecendo com todas as mídias de massa, uma vez que, quando você oferece uma gama maior de oportunidades multimídia as pessoas, a tendência é que essa audiência se pulverize cada vez mais.
E aí surgem os diferenciais. No FM, mais especificamente, vieram as ações promocionais, a aposta em programas de humor entre outros. Descolando-se assim daquela idéia tradicional do FM de músicas-vinhetas-desanunciar-break-músicas de novo.
E eu vou mais longe ainda. Muitas emissoras tem apostado em novas oportunidades no FM, inserindo programas e até emissoras inteiras do AM dentro deste contexto de radiodifusão. Esses experimentos trazem lições que vão desde o fato da experiência sonora do AM ser desconfortável por conta dos ruídos, até a questão do formato tradicional do FM já estar saturado e que necessita de novas possibilidades.
Pois é aí que reside o X da questão. Acredito que o futuro do rádio está justamente em se aliar a linguagem dinâmica do FM, com as características informativas e de entretenimento proporcionadas pelo AM. A música passa a ser um coadjuvante nesse cenário e o diferencial, que outrora se resumia em ser a capacidade de combinação de músicas por parte do programador, aliada a uma boa plástica e ágeis locutores, agora é bem mais complexo e requer planejamento, criatividade e ousadia por parte de todos que fazem o rádio.

Um comentário:

  1. Excelente análise.
    Creio que o rádio jamais perderá seu valor, charme e praticidade. A roda gigante da tecnologia dá sua volta, incorpora novas ferramentas, o rádio balança, mas não cai. Ao contrário, redefine sua vocação e ressurge vigoroso; mais até do que antes.
    Nenhuma outra mídia consegue ser tão penetrante sem ser invasiva. Ele se comunica com você, dá o recado do seu conteúdo, enquanto você continua fazendo o que está fazendo. Simplificando com apenas uma, entre muitas outras situações, pergunta-se:
    Quem pode dirigir vendo TV ao mesmo tempo? Ou lendo um jornal ou revista ao mesmo tempo? Ou falando ao telefone ao mesmo tempo? As pessoas até falam ao telefone quando estão dirigindo, mas sabemos todos que isso é ilegal e perigoso.
    Os grandes desafios do rádio AM contemporâneo - superar os altos custos dos equipamentos de transmissão e a baixa qualidade da recepção - estão com os dias contados. Rádio AM e FM serão uma coisa só no espectro da sintonia digital. E no espectro da internet, com uma linguagem dinâmica, música sem repetição de refrões, agilidade na informação, o rádio será o "cara" da festa.
    Pode-se discutir quem nasceu primeiro: o ovo? Ou a galinha, o pato, o marreco, o pavão, a ema, o ganso, o canarinho ou o pardal?
    Pode-se discutir tudo isso.
    Mas não dá para discutir quem nasceu primeiro: o som do rádio ou a imagem da TV, do celular, do computador?
    Aposto todas as minhas fichas nesta realidade!

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